Agricultores colocam em prática novos aprendizados em busca de melhorias no Semiárido

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Horticultura em agrovila de Abaré, Semiárido baiano. Foto: Fundação APAEB

Agricultora e empreendedora do grupo de produção Sabores da Terra, da comunidade de Papagaio, no município de Valente, Semiárido baiano, Eliete Oliveira dos Santos também está à frente da gestão de um espaço para expor produtos de grupos locais. Para que possa incrementar suas atividades, ela tem buscado colocar em prática novos aprendizados, atenta às possibilidades da região onde vive. Ter visitado duas iniciativas que dialogam com a experiência da qual participa trouxe contribuições importantes, garante.

“Tudo o que aprendi pode me ajudar como agricultora e como empreendedora. Estamos tentando implementar mudanças na roça e no grupo de produção, ” conta. Eliete visitou, em julho, junto com um grupo de 37 pessoas, as experiências de agrovilas, em Abaré, e de beneficiamento de frutas da Coopercuc – Cooperativa Agropecuária Familiar de Canudos, Uauá e Curaçá, em Uauá, ambas no Semiárido da Bahia.

Em Abaré, ela visitou assentamentos com estrutura tecnológica para irrigação e produção de hortaliças e frutas para comercializar. Na ocasião, conheceu uma forma eficiente de plantar banana, um novo modo de fazer o canteiro produtivo e uma estratégia para cuidar das galinhas. Esses foram os três pontos destacados pela agricultora, que compartilha aqui um pouco do que aprendeu: “no plantio de banana, por exemplo, percebi que eles cavam uma base de quatro palmos para plantar. Aqui a gente fazia diferente, cavava sem aprofundar e não dava muito certo. Já estamos fazendo desse jeito novo para ver o que acontece”, diz.

E os aprendizados não param por aí: “ vi também que eles fazem o canteiro no chão e colocam um plástico em baixo para preservar a água. Aqui a gente costuma levantar a terra para fazer o canteiro. Ele fica mais no alto. Também é diferente a forma como conservam as galinhas, com uma espécie de casinha de alvenaria”, explica.  Eliete conta que, onde vive, as galinhas são cercadas por uma tela. Neste caso, a vantagem é que elas têm mais espaço e se alimentam com mais facilidade do que encontram no mato. No caso da experiência que visitou, destaca que as aves ficam mais protegidas, mas que é preciso levar o alimento para os animais. “Tem gente que voltou da visita e já está tentando implementar essa casinha para as galinhas”, revela.

De Uauá, onde foi conhecer de perto da experiência da Coopercuc, Eliete trouxe mais do que conhecimentos. A agricultora conta que chegou de viagem com diferentes produtos da cooperativa para mostrar às pessoas que integram o grupo produtivo do qual participa. A investida teve um motivo: “a embalagem chama a atenção, valoriza o produto”, diz. Eliete conta que estão tentando ver se conseguem recursos para incrementar as produções e que uma das coisas que mais a impressionou na visita foi a forma como a Coopercuc armazena as frutas, para conservá-las, numa espécie de galão.

Foi também com entusiasmo que o jovem Alan Oliveira Matos, de Queimadas, Semiárido baiano, contou sobre as visitas que realizou. Ele participou de outro grupo e conheceu as experiências do Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada – IRPAA, em Juazeiro, também no sertão da Bahia, e da Embrapa Semiárido, em Petrolina, Pernambuco.

Com 19 anos, Alan cursa engenharia agronômica em Aracaju. Conta que pretende voltar para a região de Queimadas, onde nasceu, para colocar em prática os conhecimentos, assim que concluir o curso. De passagem por lá – onde faz estágio no sindicato de trabalhadores rurais quando está de férias ou quando tem folga – o jovem compartilha um pouco do que aprendeu durante as visitas. Alan explica que o intercâmbio de conhecimentos foi muito importante por permitir o acesso a saberes contextualizados com o Semiárido. Segundo ele, o curso universitário se distancia da realidade do campo ao se voltar mais para o agronegócio. O jovem, aliás, deixa claro: a agricultura familiar é um de seus maiores interesses.

E foi para incrementar as práticas nesse campo que ele já encomendou algumas mudas de leucena para plantar em sua propriedade. Planta forrageira que ajuda na alimentação animal em períodos de estiagem, a leucena foi uma das espécies destacadas pela Embrapa. Alan se interessou pelos benefícios que pode ter com a planta e resolveu experimentar, variar os tipos de forragens.

Quanto aos conhecimentos que trouxe da visita ao IRPAA, o jovem lembra que conheceu diferentes tecnologias de captação e armazenamento de água que buscam contribuir para o desenvolvimento rural no Semiárido. Duas delas, entretanto, chamaram mais sua atenção: a bomba popular, um equipamento que capta água em poços desativados e com profundidade de até 100 metros e uma espécie de filtro para limpar a água. “ Fiquei interessado em implantar o filtro, preciso de matéria-prima”, diz. Quem explica como funciona, é o próprio jovem: “a água passa pelo cano e sai depois de filtrada ao ter contato com um filtro que tem pedra e areia”, diz.

Filtro de carvão vegetal contribui para a convivência com o Semiárido. Foto: Fundação APAEB

Eliete e Alan participaram das visitas de intercâmbio no âmbito do Projeto Boas Práticas de Inovação Tecnológica no Semiárido Nordestino, parceria entre a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável e Solidário da Região Sisaleira – APAEB e o Programa Semear. A iniciativa consiste em compartilhar experiências produtivas e metodológicas com foco na inovação tecnológica aplicada por famílias e organizações que podem ser replicadas no contexto das atividades desenvolvidas pela Fundação.

“Vimos que era preciso mostrar diferentes aprendizados em produção, organização social e comercialização.  Percebemos essa demanda no contato com as comunidades”, diz Luiz Aldo Araújo, coordenador do Projeto. Ele explica ainda que participaram dos intercâmbios  técnicos, educadores, famílias agricultoras e empreendedoras rurais das comunidades visitantes, do Semiárido baiano, acompanhadas pela Fundação APAEB e por representantes das organizações e comunidades visitadas.

Ainda estão previstas duas visitas, até o fim do ano, com cerca de 40 pessoas, cada. Entre os temas a serem abordados, estão a agroecologia e a economia solidária.

As visitas às regiões de Abaré e Uauá foram realizadas nos dias 16 e 17 de julho. A segunda, em Juazeiro e Petrolina, nos dias 29 e 30 do mesmo mês.

 

FONTE: Núcleo de Comunicação do Programa Semear